Apenas três meses se passaram desde que o Brasil venceu merecidamente a Copa América. É surpreendente, então, que o treinador Tite se sinta pressionado tão cedo.
É verdade que os amistosos de setembro não foram bem. Sua equipe precisava vir de trás para manter a Colômbia empatada e depois perder para o Peru. Mas muitos dos ataques que o técnico sofreu posteriormente o consideraram culpado de tentar fazer seu trabalho.
Os próximos amistosos contra o Senegal e a Nigéria são controversos por várias razões. O mais válido é certamente a localização. Esses jogos serão realizados em Cingapura – uma viagem longa e inconveniente para todos os envolvidos. Mas isso não é culpa de Tite. Os amistosos do Brasil são organizados por uma empresa terceirizada, que se esforça para construir uma marca global.
Alguns torceram o nariz para a oposição. Isso é um pouco duro. O calendário europeu está tão cheio de jogos competitivos que não é fácil estabelecer amistosos com times do continente, especialmente quando eles não estão muito interessados em enfrentar o Brasil. E ambos os lados africanos têm méritos. Especialmente, eles se especializam em transições rápidas e poderosas – o mesmo tipo de arma de ataque que apresentou ao Brasil tantos problemas no empate por 2 a 2 contra a Colômbia.
Mas Tite foi criticado principalmente pela composição de seu time – e pelo fato de incluir sete jogadores em casa. Há um paradoxo aqui, porque muitas vezes há um apelo popular a estrelas mais baseadas no país para dar uma olhada na equipe nacional. Mas o problema aqui é o calendário do futebol brasileiro, que é uma batalha constante para tentar enfiar três litros em uma garrafa que só pode conter dois. O campeonato local não pausa para as datas da FIFA. Isso significa que os jogadores em casa perderão pelo menos duas rodadas de uma liga que está começando a entrar em sua fase decisiva. E no elenco estão dois jogadores do Flamengo e Grêmio, que se enfrentam na segunda mão da semifinal da Libertadores, no dia 23 de outubro. Eles voltarão bem antes do grande jogo – mas podem estar cansados pela quantidade de tempo gasto em um avião.
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Quando Tite deu uma conferência de imprensa para anunciar sua equipe, a interrupção que causaria ao jogo local era praticamente o único assunto de debate. Este claramente não é problema dele. Os clubes assinaram o calendário e, portanto, devem aceitar as consequências. Tite foi contratado para fazer o melhor que pode para a equipe nacional – e jogadores do Gremio Matheus Henrique atacante do Flamengo Gabriel Barbosa provaram ser dignos de uma oportunidade. É claramente injusto sobrecarregar o técnico com os problemas da organização do futebol brasileiro – especialmente porque ele já tem problemas suficientes.
Foi decepcionante que na conferência de imprensa ninguém parecesse estar interessado no lado brasileiro porque – apesar do triunfo da Copa América – há muitas coisas a discutir.
A derrota por 1 x 0 para o Peru foi a terceira vez em sete jogos que o Brasil não marcou – cada vez contra adversários sem armas que estavam felizes em defender. Como isso deve ser resolvido? Existe a necessidade de um verdadeiro atacante? Nenhum foi nomeado no esquadrão. Como a equipe pode tirar o melhor proveito Roberto Firmino? Até agora, o homem do Liverpool não é tão eficaz para o país quanto para o clube.
E se a partida do Peru destacou alguns problemas de ataque, o jogo contra a Colômbia fez o mesmo pela defesa. A grande lição da eliminação da Copa do Mundo do ano passado foi a necessidade de enfrentar adversários perigosos. O Brasil estava muito aberto nas quartas de final contra a Bélgica, principalmente no flanco esquerdo. E, pouco mais de um ano depois, esse foi o próprio espaço que a Colômbia explorou para abrir a vantagem por 2-1.
É justo dizer, então, que existem várias dúvidas. Por um tempo, no reinado de Tite – durante a qualificação para a Copa do Mundo no segundo semestre de 2016 e durante todo o ano seguinte – tudo se encaixou e a estrutura da equipe parecia bem projetada. O mesmo não se aplica desde então. Existem perguntas individuais; existe uma reserva razoável para Dani Alves de volta? pode Eder Militao crescer para o sucessor de longo prazo para Thiago Silva no centro das costas? Mas também há perguntas sobre a arquitetura do lado, sobre a melhor maneira de recuperar a mistura de 2016-17. A principal perda é a do organizador do meio-campo Renato Augusto. Uma maneira de compensar é manter o herói da Copa América Everton na asa esquerda, e campo Neymar – prestes a jogar seu 100º jogo internacional – em um papel mais central?
Tais dúvidas são uma parte natural do processo. Eles explicam por que o Brasil precisa jogar esses amistosos e por que deve fazê-lo com força total, aproveitando todas as oportunidades para procurar candidatos promissores – quaisquer que sejam os efeitos no jogo doméstico.